Prólogo
| Portugal na Idade Média
| Acervo existente
| As Descobertas
| Cartografia e Náutica
Novos Mundos – Velhos Impérios
| Portugal no Ultramar
| Os Gabinetes de Curiosidades
Portugal no século XVI
| Conflitos internacionais
| A imagem do Outro
»E, depois que assim estivemos pousados, vieram de terra a nós quatro barcos, os quais vinham por saber que gente éramos e mencionaram e nos mostraram Calecute. E igualmente no outro dia voltaram estes barcos aos nossos navios, e o capitão-mor mandou um dos degredados a Calecute; e aqueles que o acompanharam levaram-no aonde estavam dois mouros de Tunes, que sabiam falar castelhano e genovês. E a primeira salva que lhe deram foi esta que se segue: ›O diabo que te carregue; quem te trouxe cá?‹ E perguntaram-lhe o que vinhamos buscar tão longe; e ele respondeu: ›Vimos buscar cristãos e especiarias.‹«
É com este famoso episódio da Relação da Viagem de Vasco da Gama, atribuída a Álvaro Velho, que termina a longa busca da ligação marítima entre a Europa e a Ásia. Em Maio de 1498, a frota de Vasco da Gama chegara à Índia. Este escasso diálogo que esboça um primeiro contacto, é já testemunho de uma comunicação difícil. »Cristãos e especiarias« foram o leitmotiv das Descobertas. Esta referência é paradigmática tanto do alargamento da fé cristã, como legitimação moral e missão político-religiosa, como da esperança nos produtos da Ásia, tidos como promissores de grandes lucros. Ao mesmo tempo, este episódio remete para o carácter internacional do comércio mundial de então, para a renhida concorrência, com os árabes e italianos, pelas cobiçadas especiarias da Ásia e para a reacção de pouco agrado dos comerciantes aí estabelecidos, quanto aos recém-chegados.
O que Vasco da Gama descobre não era terra desconhecida, mas sim um novo caminho para se chegar aos conhecidos produtos. Porém, foram enormes as repercussões técnicas do transporte náutico de ligação entre o Oceano Atlântico e o Oceano Índico. Já no início do século XVI se tinha estabelecido um verdadeiro sistema de transportes regulares, na rota do Cabo da Boa Esperança. O mundo tornava-se mais pequeno e ao desenvolvimento histórico seguia-se a narração histórica dos acontecimentos. Em 1572, Luis de Camões, comparando os feitos dos seus compatriotas com os heróis da Antiguidade, Ulisses e Eneias, versou:
»Os vossos, mores cousas atentando, Novos Mundos ao Mundo irão mostrando.«